terça-feira, 31 de maio de 2011

Em meio à sua maior crise, Fifa reelegerá Blatter nesta quarta

Candidato único após a desistência de Mohammed Bin Hammam, suíço deve ser aclamado para seu quarto mandato consecutivo

Levi Guimarães, iG São Paulo * | 31/05/2011 23:10

Eleito presidente da Fifa pela primeira vez em 1998, o suíço Joseph Blatter deve ter confirmada na manhã desta quarta-feira, em meio à maior crise da história da entidade, sua terceira reeleição. Sucessor do brasileiro João Havelange, o dirigente vai, portanto, completar 17 anos no cargo, já que o novo mandato tem duração até 2015. Confira abaixo infográfico explicativo sobre o processo eleitoral da Fifa e a participação dos principais personagens da crise.
Embora o mundo do futebol esteja acostumado à perpetuação de seus cartolas no poder, o atual pleito se diferencia dos anteriores pela série de escândalos envolvendo a entidade desde a escolha dos países sedes das Copas de 2018 e 2022 – e, com mais intensidade, no último mês. Um tiroteio de acusações que revelaram reuniões secretas, pedidos e pagamentos de propinas e que resultou com o afastamento de dois importantes dirigentes, inclusive o único possível rival de Blatter pela presidência, o catariano Mohammed Bin Hammam.

Foto: EFE Ampliar
Novo-velho presidente: vitorioso nos bastidores e inocentado pelo conselho de ética, ficará 17 anos à frente da Fifa
Para explicar toda a crise, no entanto, é preciso voltar a dezembro de 2010. Assim que a Fifa definiu Rússia e Catar como sedes dos próximos mundiais, suspeitas em relação a esse processo de escolha foram levantados, principalmente pela imprensa britânica. Mas nenhuma acusação foi feita. Até o início de maio.
O ex-presidente da federação inglesa, David Triesman, pode ser considerado responsável pelo estopim da crise. Foi ele quem acusou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, além de outros três dirigentes, de pedir suborno para votar na candidatura inglesa a 2018 – os outros eram Jack Warner, presidente da Concacaf, Nicolas Leoz, presidente da Conmebol e Worawi Makudi, presidente da federação tailandesa.
A Fifa pediu provas das acusações, imediatamente negadas por Teixeira. Segundo Triesman, o brasileiro teria lhe dito: “venha e me diga o que você tem para mim”. Enquanto isso, nova acusação: esta, feita pelo jornal Sunday Times, apontava não apenas um pedido de propina, mas dizia que Issa Hayatou, presidente da confederação africana, e Jacques Anouma, presidente da federação marfinense, teriam de fato recebido US$ 1,5 milhão de dólares para votarem na candidatura do Catar a 2022.
Por conta dessas acusações, a Fifa abriu investigação contra os quatro dirigentes apontados por Triesman e o rival de Blatter, Bin Hammam, iniciando a bola de neve (ou de lama) que sujaria praticamente todo o alto escalão do futebol. Mas que, ao mesmo tempo, deixaria o caminho livre para Blatter ser reeleito com uma facilidade ainda maior do que era esperado inicialmente.

Foto: AP Ampliar
Bin Hammam, que ia tentar vencer Blatter na eleição, retirou sua candidatura e depois foi suspenso
A resposta foi rápida. A Concacaf denunciou que Blatter teria conhecimento de propinas pagas em um congresso da entidade e Bin Hammam usou essa denúncia para pedir que o próprio presidente também fosse investigado. Solicitação acatada pela Fifa, o que gerou elogios de Michel Platini pela suposta isenção do comitê de ética da entidade, embora o presidente da Uefa também tenha dito que retiraria o apoio a Blatter se as denúncias fossem comprovadas.
No último sábado, enquanto eram investigados, Jack Warner previu que um “tsunami” atingiria a Fifa e Bin Hammam, que antes acreditava ter as mesmas chances de Blatter, retirou sua candidatura à presidência da entidade. Os dois acabaram sendo justamente os únicos punidos – com suspensão por tempo indeterminado – pelo comitê de ética, enquanto Blatter, Teixeira e os outros investigados foram declarados inocentes.
Principal “bode expiatório” da crise, Warner revelou uma troca de e-mails com Jerome Valcke, onde o secretário da Fifa e braço direito de Blatter dizia que o Catar havia “comprado” a Copa de 2022 e também queria comprar a presidência da Fifa. Embora tenha confirmado que o e-mail fosse de sua autoria, Valcke negou estar se referindo a uma conduta ilegal da candidatura catariana.
Na última segunda-feira, a dois dias da eleição, a irritação de Blatter em uma entrevista coletiva demonstrou como o dirigente está atordoado com a crise. Crise que ele, aliás, afirmou não existir. "Falo se está em crise se vocês me falarem o que é crise. Estamos em dificuldade e vamos superá-las", resumiu antes de tentar encerrar a entrevista prematuramente por duas vezes. Enfim, às vésperas do pleito, as reações à crise na entidade vêm de todos os lados:

Um senador australiano quer uma indenização da Fifa pelos custos do projeto de candidatura do país à Copa de 2022; a federação inglesa, que já havia anunciado sua abstenção, pediu também o adiamento da votação, recebendo o apoio do príncipe William, seu presidente de honra; Coca-Cola, Adidas, Visa e Emirates Airlines, patrocinadores da Fifa, ampliaram a pressão por reformas na entidade; a presidente de Suíça, Micheline Calmy-Rey, pediu mais transparência e seriedade aos dirigentes.
O brasileiro João Havelange, alheio a todas essas posições, culpou a inveja de adversários de Blatter pela crise. E Blatter, em novo discurso fantasioso, lamentou não viver no mundo de "fair play, respeito e disciplina" que acreditava cercar o futebol. Ele não parece, no entanto, decepcionado a seguir Bin Hammam e retirar sua candidatura, única decisão que daria um desfecho inesperado à eleição que se aproxima.
* colaborou Francisco De Laurentis
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