Candidato único após a desistência de Mohammed Bin Hammam, suíço deve ser aclamado para seu quarto mandato consecutivo
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Embora o mundo do futebol esteja acostumado à perpetuação de seus cartolas no poder, o atual pleito se diferencia dos anteriores pela série de escândalos envolvendo a entidade desde a escolha dos países sedes das Copas de 2018 e 2022 – e, com mais intensidade, no último mês. Um tiroteio de acusações que revelaram reuniões secretas, pedidos e pagamentos de propinas e que resultou com o afastamento de dois importantes dirigentes, inclusive o único possível rival de Blatter pela presidência, o catariano Mohammed Bin Hammam.
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Novo-velho presidente: vitorioso nos bastidores e inocentado pelo conselho de ética, ficará 17 anos à frente da Fifa
O ex-presidente da federação inglesa, David Triesman, pode ser considerado responsável pelo estopim da crise. Foi ele quem acusou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, além de outros três dirigentes, de pedir suborno para votar na candidatura inglesa a 2018 – os outros eram Jack Warner, presidente da Concacaf, Nicolas Leoz, presidente da Conmebol e Worawi Makudi, presidente da federação tailandesa.
A Fifa pediu provas das acusações, imediatamente negadas por Teixeira. Segundo Triesman, o brasileiro teria lhe dito: “venha e me diga o que você tem para mim”. Enquanto isso, nova acusação: esta, feita pelo jornal Sunday Times, apontava não apenas um pedido de propina, mas dizia que Issa Hayatou, presidente da confederação africana, e Jacques Anouma, presidente da federação marfinense, teriam de fato recebido US$ 1,5 milhão de dólares para votarem na candidatura do Catar a 2022.
Por conta dessas acusações, a Fifa abriu investigação contra os quatro dirigentes apontados por Triesman e o rival de Blatter, Bin Hammam, iniciando a bola de neve (ou de lama) que sujaria praticamente todo o alto escalão do futebol. Mas que, ao mesmo tempo, deixaria o caminho livre para Blatter ser reeleito com uma facilidade ainda maior do que era esperado inicialmente.
Foto: AP Ampliar
Bin Hammam, que ia tentar vencer Blatter na eleição, retirou sua candidatura e depois foi suspenso
No último sábado, enquanto eram investigados, Jack Warner previu que um “tsunami” atingiria a Fifa e Bin Hammam, que antes acreditava ter as mesmas chances de Blatter, retirou sua candidatura à presidência da entidade. Os dois acabaram sendo justamente os únicos punidos – com suspensão por tempo indeterminado – pelo comitê de ética, enquanto Blatter, Teixeira e os outros investigados foram declarados inocentes.
Principal “bode expiatório” da crise, Warner revelou uma troca de e-mails com Jerome Valcke, onde o secretário da Fifa e braço direito de Blatter dizia que o Catar havia “comprado” a Copa de 2022 e também queria comprar a presidência da Fifa. Embora tenha confirmado que o e-mail fosse de sua autoria, Valcke negou estar se referindo a uma conduta ilegal da candidatura catariana.
Na última segunda-feira, a dois dias da eleição, a irritação de Blatter em uma entrevista coletiva demonstrou como o dirigente está atordoado com a crise. Crise que ele, aliás, afirmou não existir. "Falo se está em crise se vocês me falarem o que é crise. Estamos em dificuldade e vamos superá-las", resumiu antes de tentar encerrar a entrevista prematuramente por duas vezes. Enfim, às vésperas do pleito, as reações à crise na entidade vêm de todos os lados:
Um senador australiano quer uma indenização da Fifa pelos custos do projeto de candidatura do país à Copa de 2022; a federação inglesa, que já havia anunciado sua abstenção, pediu também o adiamento da votação, recebendo o apoio do príncipe William, seu presidente de honra; Coca-Cola, Adidas, Visa e Emirates Airlines, patrocinadores da Fifa, ampliaram a pressão por reformas na entidade; a presidente de Suíça, Micheline Calmy-Rey, pediu mais transparência e seriedade aos dirigentes.
O brasileiro João Havelange, alheio a todas essas posições, culpou a inveja de adversários de Blatter pela crise. E Blatter, em novo discurso fantasioso, lamentou não viver no mundo de "fair play, respeito e disciplina" que acreditava cercar o futebol. Ele não parece, no entanto, decepcionado a seguir Bin Hammam e retirar sua candidatura, única decisão que daria um desfecho inesperado à eleição que se aproxima.
* colaborou Francisco De Laurentis
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